A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento
Antigamente se acreditava que o conhecimento era transmitido, que passava de uma pessoa para outra. É claro que, por mais que se esforçasse, talvez nosso professor de Português não tivesse conseguido nos transmitir as regras da colocação pronominal. (Sabe aquele papo de próclise, mesóclise e ênclise? Não? Fique calmo, quase ninguém se lembra...) O caso é que fizemos a prova e tiramos a nota, mas hoje precisamos escrever uma carta comercial ou um artigo para a revista, mandar um e-mail, procuramos dentro de nós e... onde foi parar? Com certeza, não é um conhecimento disponível no presente. Não aprendemos de fato, pois uma das características da aprendizagem é ser aplicável: não apenas saber, mas poder usar o que se sabe. Agora, aquela música dos Incríveis... aquela você nunca mais esqueceu! Às vezes se pega cantarolando era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. Gostando ou não gostando, ela ficou. Por que a música permaneceu e a mesóclise foi pro espaço? - Porque a música era fácil. – Alguém diz. Acontece que outras coisas eram muito mais fáceis e você esqueceu, como o telefone da sua cunhada, enquanto reteve inúmeros dados difíceis, como um vocabulário de centenas de palavras e expressões em Inglês. Mesmo sem entrar presentemente na relação entre memória e aspectos emocionais/sentimentais, ainda assim podemos entender o que acontece, com a ajuda de modernas teorias da aprendizagem. Elas consideram o conhecimento como sendo uma construção íntima de cada ser, uma elaboração da mente, construindo, desmontando e reconstruindo estruturas de pensamentos, sempre a partir do que percebeu e experimentou. Há, certamente, os fatores externos, as possíveis estimulações, que são recursos que podem despertar o interesse do aluno para um determinado tema, numa atitude de curiosidade e atenção. Mas a realidade é que ninguém controla o modo como o outro aprende, ou quando chegará a aprender o que pretende ensinar. A prova disso é que aprendemos muito com nossos pais (e não apenas do que esperavam que aprendêssemos!), mas há certas áreas em que eles nunca conseguiram modificar nosso jeito de pensar. E assim também acontece com as nossas crianças. Dizer que cada criança é um mundo parece clichê, mas é a mais pura verdade. Tudo o que ela já viveu, nesta encarnação e nas anteriores; tudo o que já fez, descobriu, percebeu, intuiu e pensou; os filmes que assistiu, as conversas que ouviu, as histórias que leu; tudo participa do seu modo de ver o mundo e de aprender. Que conceitos adquiridos entram na formação de suas conclusões sobre as coisas? Nunca saberemos totalmente. Mas o que se sabe é que as informações e os exemplos a que se expõe sempre podem influenciá-la mais ou menos intensamente - o que é nossa porta de entrada, como educadores, neste seu mundo tão particular. O que se pode fazer é criar um meio propício, é oferecer, à inteligência, a argamassa, o material de construção em quantidade e qualidade suficientes para que a criança construa suas estruturas de pensamento da melhor maneira, com o melhor tipo de informação e os melhores exemplos possíveis. E aqui chegamos à importância dos livros e da leitura neste processo. Ler é saber. O primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico. Ler é trocar. Ler não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando idéias e revendo conceitos. Ler é dialogar. Quando lemos, estabelecemos um diálogo com a obra, compreendendo intenções do autor. Somos levados a fazer perguntas e procurar respostas. Ler é exercitar o discernimento. Quando lemos, colocamo-nos de modo favorável ou não aos pontos de vista, pesamos argumentos e argumentamos dentro de nós mesmos, refletimos sobre opções dos personagens ou sobre as idéias defendidas pelo autor. Ler é ampliar a percepção. Ler é ser motivado à observação de aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos. Ler bons livros é capacitar-se para ler a vida.
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