O orgulho de ser brasileiro

18:21 emarinho12 0 Comments

Por: girino - http://blog.girino.org/girinadas/patriotismo-globalizacao-e-historia/

Orgulho individual

Essa cosia de orgulho é complicada. A moral judaico-cristã ajudada pelo estoicismo grego que vigorava na época do inicio do cristianismo, determina que orgulho é pecado. e de certa forma eles tem razão: A sociedade judaica, assim como a romana, se baseavam num conjunto de regras de convivência que não se sustentariam diante do orgulho e do individualismo. A virtude estava na humildade, e assim foi durante milênios. Não vou discutir os méritos disso como forma de divulgação religiosa, de dominação de povos conquistados, etc. Só dizer que isso tem suas razões de ser, quer se apliquem aos nossos dias de hoje ou não.
Voltemos a “hoje em em dia”. Hoje em dia temos a dicotomia: A cultura “dominante” no mundo é a anglo-saxã, que preza o individualismo e conseqüentemente o orgulho individual. Um indivíduo PRECISA se orgulhar do que conquistou sozinho, e esse é o objetivo de vida dos indivíduos nessa cultura. Expresso basicamente pelos termos “winner” e “loser” usados como elogio e ofensa “máximos” respectivamente.
Já na nossa cultura latino-americana, o sentimento de grupo é fundamental apesar de difuso. O indivíduo tem uma determinada importância, mas a família e os grupos próximos são mais importantes. Faz parte da cultura local considerar uma família “estendida” além do grupo básico de pai, mãe e filhos menores de idade que é a família anglo-saxã, e colocar esta família que contempla primos e tios, avôs e cunhados, sobrinhos e vizinhos em primeiro plano, conflitando com os interesses individuais. Nesse contexto, ser um “vencedor” ou um “perdedor” não significa nada sem a aceitação do grupo familiar. O orgulho individual deixa de fazer sentido nesse contexto. Já o sentimento de grupo (calma, vou falar mais pra frente) passa a ser mais importante. A forte dependência do indivíduo com o grupo (e vice versa) faz com que o orgulho e as conquistas do indivíduo isoladamente sejam irrelevantes, e até indesejáveis. É preciso que todo o grupo usufrua das benesses conquistadas, em maior ou menor grau, dependendo da distância do parentesco.
Essa estrutura de família estendida reflete claramente em outras esferas da nossa vida cotidiana: os famosos problemas de nepotismo político, de preconceitos sociais, de favorecimentos e corrupções, de abuso da “coisa pública” em prol de um grupo seleto, etc. É o reflexo de uma importância não no individuo nem no coletivo, mas sim no grupo familiar estendido, pedindo não o sacrifício do indivíduo, como em culturas totalmente coletivistas, mas sim do alheio.
Isso nos remete de novo ao sentimento de grupo…

Sentimento de grupo

Que é outra coisa discutida no artigo, de forma misturada com o patriotismo… Mas não são bem a mesma coisa. O sentimento de grupo é algo natural no ser humano, seja ele oriundo de cultura individualista, coletivista ou “zoneada” que nem a nossa. A forma de construção dos grupos é que vai variar de cultura pra cultura. Os individualistas tem preferência por grupos “escolhidos” por “afinidades” individuais. Clubes das mais diversas atividades, desde venda de tupperware até engenharia e ciências. Os indivíduos tentam buscar outros que se assemelhem a eles.
Na cultura coletivista são grupos “impostos” e globais. É “o partido”, “o islã”, “o povo judeu”, ou figuras de autoridade: o Fuhrer.
Na nossa cultura “zoneada”, são grupos herdados. É o time de futebol “do meu pai”, o partido “do padrinho”, a família, os vizinhos, e por aí vai, diminuindo de intensidade a medida que a coisa se distancia da família. O país mesmo, aquela coisa abstrata e tudo mais, só serve pra me chupar impostos e me dar motivo pra reclamar.
Mas e o patriotismo então?

Patriotismo

O patriotismo tem outra função. Não é um sentimento natural nem cultural, é um sentimento cultivado de propósito. Não “de propósito” no sentido de ser uma maldade que alguém quis fazer. de propósito no sentido de que foi idéia de alguém fazer isso, porque era a forma de se conseguir construir um país.
Muito tempo atrás, éramos tribos nômades, que se encontravam de vez em nunca e quando isso acontecia rolava porrada. Depois algum sujeito inventou a agricultura, e de nômades viramos camponeses, e a medida que a coisa evoluía, o excedente de produção crescia e a busca por novas atividades também. Disso resultou o crescimento populacional, o comercio e a necessidade de paz. Paz que gerou alianças entre aldeias, que geraram cidades. e por muito tempo foi assim: Cidades, ou impérios baseados em cidades.
Até que o comércio ultrapassou os limites. Precisava de MAIS paz e MAIS excedente de produção. Cidades não sustentavam o comércio renascentista, e cidades brigavam entre si. Dessa necessidade surgiu algo maior: O estado nacional.
Agora vejam bem… É fácil se sentir “membro” de um aldeia. É fácil perceber que sua aldeia agora é uma “tribo” de uma cidade maior. Mas um país? Assim, dezenas de cidades, com espaços vazios entre elas? E eu, euzinho mesmo, tenho alguma coisa a ver com aquele mané láaaaaaa do outro lado do rio? SEM CHANCES! Nananinanão!
Não tem jeito, o Estado nacional que precisava existir pra garantir a paz e conseqüentemente o comércio mercantilista precisava de um sentimento que NÃO ERA NATURAL. Ou melhor, um sentimento que era natural precisava ser “aumentado” pra englobar não só quem estava ali perto, mas também quem estava longe pra caralho e você não ia ver nunca na vida!
Nesse momento o nacionalismo foi sendo destilado. Guerras com participação popular, reis carismáticos. Nobreza itinerante. Ascensão social. Uma série de recursos foram usados pra garantir que o sentimento que antes era local, se expandisse pra um tamanho maior, até ser nacional.
E sim, o nacionalismo brasileiro não é diferente. Ele vem sendo destilado desde o império, com altos e baixos, de forma a garantir que uma merda de um país desse tamanho todo, com gente que nem falava a mesma língua portuguesa, mas dialetos totalmente desencontrados, se unisse numa só bandeira, num só rei, num só grupo de coronéis, de industriais ou de políticos. O futebol era uma arma, uma bomba atômica de patriotismo. Se os europeus refletiam o patriotismo já existente no seu futebol, os sul-americanos refletiam o futebol no patriotismo em construção. Quem não se orgulhou dos gols de Dadá contra a seleção de João Saldanha, e depois vibrou porque Dadá foi parar na seleção “a pedido do presidente”? Propaganda, patriotismo para os atleticanos também!
Mas se depois dessa desconstrução do patriotismo alguém está achando que eu sou contra o patriotismo, longe de mim: Assim como tudo criado pelo homem, o patriotismo é uma ferramenta, boa ou ruim, para atacar um problema. Houve um tempo em que uma cidade podia viver sozinha e o sentimento natural de pertencer a cidade era suficiente pra manter um governo, uma sociedade e uma paz duradouros. A medida que a coisa evolui e cresce, os países precisam ser também governados, não no sentido de “controlados” mas no sentido de “administrados”. É um serviço sujo, mas alguém tem de fazê-lo. E a sociedade “depende” disso, e por conseqüência, depende da eficiência do patriotismo em manter unidos numa mesma estrutura social grupos geográficos e as vezes até étnicos e culturais distintos.
E é aí que entra a globalização.

Globalização


Parece “buzzword” fora de moda, mas não é. É um processo que começou a ficar aparente de 30 anos pra cá, e que hoje, em finais da década de 2000, atinge quase todos os níveis da nossa sociedade. Eu disse quase? Sim… Uma pequena aldeia ainda resiste às agressões do invasor. E por mais que se critiquem os neo-liberais ou quem quer que sejam os políticos por serem responsáveis pela globalização, a verdade é o contrário: Eles são o último bastião do estado nacional. Tudo hoje é globalizado: comércio, indústria, cultura, economia. tudo entrelaçado e misturado, quase sem nenhuma fronteira mais. Exceto a política. Cada país tem a sua política, as suas leis, a sua forma de governo, a sua constituição e suas forças armadas independentes.
Não é que os políticos sejam agentes retrógrados que propositalmente atrapalham a evolução da humanidade como um todo. Eles não tem culpa. Eles só não sabem o que fazer. Várias tentativas de governos supranacionais já foram tentadas e foram por água abaixo. A União Européia nem mesmo conseguiu que os países todos adotassem uma mesma moeda! Imagina se fossem tentar um mesmo governo. Nem pelo fato de serem as mesmas pessoas governando. Mas nem mesmo uma FORMA de governo eles conseguem montar que possa cuidar de tudo. Não, ninguém ainda descobriu como fazer um governo globalizado.
E é nesse contexto que o nacionalismo entra pra ser criticado: Uma ferramenta de construção do estado nacional numa etapa de DES-construção desse mesmo estado. É fácil perceber que quem critica diretamente o nacionalismo não está atento pra função que ele exerceu até meados da década de 1970. Até ali, ele era  a principal ferramenta de coesão de um país. Era ele que evitava guerras civis e barbáries! Mas aí querem que ele desapareça de repente, porque no mundo de hoje ele não vê sentido, sem pensar nas conseqüências: e quem vai manter a coesão da sociedade se ele for simplesmente ignorado e abolido?
Não. Não é ignorar e repudiar o nacionalismo que temos de fazer. É evoluí-lo! É Transformá-lo num sentimento mais amplo que irá permitir a coesão da sociedade global e globalizada, permitir um governo supra nacional real, consistente e eficiente. Capaz de cuidar do global, do regional e do local, cuidando da igualdade sem ignorar as diferenças!
Utópico? Talvez, mas não é desprezando uma ferramenta criada por nossos antepassados, e desenvolvida por centenas de anos, que vamos conseguir dar o próximo passo. O nacionalismo pode ser um passo atrás, mas a idéia por trás dele é que vai nos ajudar no passo a frente. (Só espero que não sejamos como o famoso jogador de futebol).

0 comentários: